O Whats App caiu. Estamos no futuro.
Um futuro 30 anos atrasado, é fato, tão atrasado que ninguém
mais estava esperando por ele, mas ele está aqui.
Levei 24 horas para me dar conta disso. Como todo mundo, meu
primeiro pensamento foi que estávamos voltando ao passado. Nosso governo retrógrado
e incompetente nos empurra para a idade das trevas, enquanto uma pobre empresa –
como tantas – é mais uma vítima indefesa de suas idiossincrasias.
Esta pobre empresa indefesa, dona do WhatsApp, é o Facebook.
Este é o futuro.
Nossos livros de ficção científica já o descreviam na década
de 50 do século passado. Em 1970 pisaríamos na lua, na mesma década, bebês
seriam concebidos em tubos de ensaio. Na década de 80 estaríamos em Marte, teríamos
carros voadores, robôs inteligentes, e seríamos
capazes de manipular a genética do ser humano. E as empresas seriam tão
poderosas e ricas que teriam mais poder que os governos.
Depois do pouso na lua antes mesmo de 1970, e do primeiro
bebê de proveta, parece que o futuro parou, que nunca ia chegar, pelo menos não
aquele futuro mágico. Cansamos de esperar por ele.
Ocorre que nos próximos dias de dezembro poderemos ter o
primeiro foguete indo até a órbita e pousando novamente, pronto para partir
mais uma vez, reduzindo dezenas de vezes o custo de uma viagem espacial e
viabilizando os planos da empresa que o construiu de colonizar Marte. A pesquisa
em Inteligência Artificial, estagnada por décadas, está avançando como nunca
nos últimos anos. Teremos robôs inteligentes em poucos anos. Uma tecnologia
chamada CRISPR acaba de tornar provavelmente possível (e viável em poucos anos)
a engenharia genética de seres humanos.
E, hoje, as megacorporações transnacionais mais poderosas
que alguns governos já são uma realidade. E a disputa de poder é inevitável.
Nós já vimos algumas batalhas. Aqui mesmo acompanhamos a
disputa entre o Uber e a prefeitura de Porto Alegre. Agora temos um embate entre
o Facebook e o governo brasileiro.
No longo prazo, esta batalha se dá nos corações e mentes do
povo. É o povo que elege os governantes, e que, em última instância, define as
leis. É o povo que consome a publicidade, que escolhe os prestadores de serviço.
É o povo que paga empresas e governos.
Nesta disputa temos, de um lado, empresas que entendem muito
bem como os governos funcionam. Quando é a hora de fazer lobby, quando é a hora
de brigar, quando é a hora de serem vítimas.
Do outro lado temos, no Brasil, um governo atolado em escândalos,
com infindáveis leis e um total despreparo para lidar com as novas tecnologias
e o futuro que finalmente chegou. Quantos políticos, juízes, legisladores,
realmente entendem com profundidade as tecnologias de comunicação como o
WhatsApp e todas as implicações de qualquer suspensão de serviços?
O campo de batalha é a opinião pública. No caso em questão,
brasileira e mundial.
O Facebook já elegeu seu campeão e porta voz: Mark
Zuckerberg.
No lado brasileiro, defendendo sua posição, o governo
brasileiro tem um juiz de primeira instância.
Na disputa pela opinião pública, quem vocês acham que vai
vencer?
PS: No tempo entre escrever e publicar este texto, uma liminar já havia derrubado a decisão da justiça. Quem saiu fortalecido do embate? E quem mostrou fragilidade e inconsistência?